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Jun 02, 2023

Rosa Huenchuleo: "Defender a terra não tem outro propósito senão proteger a vida."

Rosa Huenchuleo Cifuentes pertence ao povo mapuche originário do Chile. Ela mora em Tarapacá há 15 anos. Ela é administradora pública, presidente da cooperativa de mulheres Añañuca e líder da associação comercial de empresários locais Küyen Ray. Rosa é participante do programa Originarias da ONU Mulheres e, por meio da iniciativa Orígenes Reutiliza, busca fortalecer sua autonomia econômica e promover ações de reciclagem que contribuam para a redução da poluição e do lixo.

Data: segunda-feira, 5 de junho de 2023

Em que consiste o seu negócio Orígenes Reutiliza?

Somos uma empresa que surgiu da necessidade de compartilhar uma mensagem cultural, uma visão e um sólido valor histórico de nossas raízes. Nossos produtos são fabricados no Chile com materiais 100% reciclados por uma equipe de seis pessoas, todas comprometidas com o meio ambiente e gerando um impacto positivo no meio ambiente.

A Orígenes Reutiliza recolhe, limpa e lustra garrafas de vinho e cerveja para lhes dar um segundo uso. Criamos vasos ecológicos, sinos de vento, porta-copos, luminárias, entre outros produtos, com equipamentos projetados por nós. Somos também fornecedores de outras PME, que nos enviam as suas matérias-primas para que possamos fazer novos produtos.

Qual é a relação entre as mulheres indígenas e a terra?

Sou indígena e respeitar a terra, os recursos naturais e o meio ambiente é essencial. Como povos indígenas, nos relacionamos diretamente com a terra e seu cuidado. Nós, mulheres indígenas, somos as que vivemos principalmente no meio rural, e somos nós que cuidamos do nosso meio ambiente. Sempre foi assim porque faz parte das nossas tradições.

Estamos conectados não só com a terra e a importância de cuidar dela por meio da reciclagem e dar uma nova vida ou uso ao que chamamos de lixo, mas também na geração de produtos com identidade e abordagem cultural do nosso povo.

Além disso, estar no Originarias criou um vínculo poderoso para mim. Pertencer ao programa me fez conectar com outras mulheres indígenas, especialmente mulheres aimarás, e fortaleceu meu sentimento de pertencimento como mulher mapuche. Esforço-me para que a identidade do povo Mapuche se reflita em meus produtos.

Por que é importante dar uma nova vida a esses produtos?

Atualmente vivemos em uma cultura de descarte. Usamos algo uma vez, jogamos fora ou ansiamos constantemente por uma substituição. Este comportamento acabará por saturar o planeta. Para nós, é fundamental demonstrar que os elementos podem ser reaproveitados e receber uma segunda vida, um segundo uso.

Encontramos principalmente vidro e plástico quando coletamos garrafas de associações de bairro, residências ou microlixões. É por isso que fazemos workshops de reciclagem, onde ensinamos pessoas que pretendem reciclar mas não sabem como o fazer.

Também reciclamos livros. Todos os anos temos uma campanha para que os vizinhos doem. Esta pequena ação de reciclagem também transmite cultura, evoca momentos felizes e até nos transporta para a nossa infância quando relemos aqueles clássicos da literatura que todos víamos na escola.

Por que é importante promover a participação de mulheres que lideram iniciativas ambientais?

No programa Originarias, fizemos diversos cursos e workshops. Uma delas é sobre liderança. Foi aí que percebi que faltava informação, por isso é fundamental aprender, mas acima de tudo, transmitir e compartilhar nossos saberes e tradições com aqueles que não pertencem aos povos originários.

A partir dos espaços de liderança onde ela participou, como, por exemplo, a associação comercial e a cooperativa de mulheres, incutimos os princípios da economia circular, do trabalho colaborativo e da identidade. Este último é significativo porque nos permite comunicar quem somos e de onde viemos, então eu, como mulher indígena, tentei integrar o amor e o respeito à terra em meu trabalho e empreendedorismo.

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